Passou-se mais de um ano desde que fiz o artigo acerca da primeira vez que fiz uma revisão mecânica à minha Africa Twin. Desde então tenho evoluído no campo da mecânica, ao ponto de frequentar um curso profissional de mecânica de motociclos. Se por esta altura sei que mecânico é algo que não quero ser de forma profissional, também sei que muita gente pode beneficiar de algumas dicas e conselhos para intervir de forma mais confiante na sua companheira de duas rodas, em casa. É isso que aqui deixo!
Mexer numa mota revelou-se muito mais fácil para mim, que não percebia nada de nada, do que eu pensei inicialmente. No entanto em mecânica é fácil desmotivar e bloquear num determinado processo para o qual não estávamos preparados, porque não pensámos num qualquer problema ou porque ignorámos um passo importante no processo em que estamos a intervir. Por isso, o primeiro conselho que dou é: em caso de dúvida ou insegurança, levar a mota ao mecânico.
O mecânico é um profissional com conhecimento e experiência prática em tudo o que é componente da moto, por isso ele é quem devemos consultar em caso de dúvida ou insegurança. Nenhum profissional trabalha de forma gratuita e por isso é normal que os mecânicos cobrem um valor apenas pelo diagnóstico. Também é de esperar que eles cobrem um valor pela mão de obra, portanto é aconselhável perguntar este valor antes de iniciar um serviço e, se este não nos parecer bem, procurar outros mecânicos. Qualidade paga-se, e esta é fácil de reconhecer.
Em segundo lugar, qualquer proprietário de moto que queira mexer na sua máquina em casa deve procurar o manual de serviço da moto. Os manuais de serviço são geralmente fornecidos pelas marcas às oficinas oficiais ou comprados particularmente a autores como a Haynes. É importante distinguir este manual do manual do proprietário, entregue juntamente com a moto nova ao seu proprietário. O manual de serviço tem toda a informação relativa à moto em questão, e permite saber por exemplo o que se deve fazer em cada revisão periódica ou, mais importante ainda, como fazer! Desde que se possuam as ferramentas adequadas.

Ferramentas:
Para intervir na moto são necessárias ferramentas e, tal como em relação a um par de ténis, por exemplo, devemos ter uma ferramenta tão boa quanto possamos comprar. Facilmente se dirá que uma chave de fendas é uma chave de fendas, independentemente da sua marca, e apesar de isso ser mais ou menos verdade no que toca a esta ferramenta específica, o mesmo não se poderá dizer por exemplo no que toca a uma chave de caixa ou a uma boca luneta. Posso dizer que a minha chave de caixa de 18” adquirida na loja chinesa não fez sequer um desaperto sem ficar moída. São portanto a qualidade do material juntamente com a reputação da marca quem determina a qualidade de uma ferramenta, aliando depois a outros factores específicos de cada ferramenta.
Existem ferramentas que são universais para a intervenção em qualquer moto, ou até para o uso em casa noutras aplicações, e existem ferramentas específicas de cada marca ou modelo que poderão ser úteis de possuir. A ferramenta específica para intervir numa moto é discriminada no manual de serviço.
Para intervir na moto em casa são necessárias algumas condições, bem como a aquisição de ferramentas. A quantidade e variedade de ferramentas que se possuem vão depender do quão à vontade se está para mexer na moto e, acima de tudo, quão complexas vão ser as intervenções a realizar na moto. Existe sempre o risco de adquirir ferramenta que raramente se vai usar, como também existe a possibilidade de esquecer uma qualquer ferramenta que vai ser fundamental na capacidade ou falta dela para terminar um serviço ou iniciá-lo.

Assim, em casa, para fazer uma intervenção básica como uma mudança de fluidos e filtros devemos ter pelo menos um jogo de chaves para aperto e desaperto de carenagens (Nota: as motos não têm todas o mesmo tipo de aperto nas carenagens, por isso poderemos considerar um conjunto completo com chaves de fendas, philips, allen e torx), um roquete com chaves de caixa de várias medidas para desapertos, um conjunto de chaves boca luneta e um martelo (ficariam surpreendidos com a quantidade de vezes que requerem o uso de um martelo. Um maço de plástico ou borracha podem ser alternativas).
Ainda no âmbito da mudança de fluidos e filtros, é necessária pelo menos uma ferramenta universal para remoção de filtros de óleo (ou a ferramenta específica daquele filtro se for justificável) e uma bandeja para onde se escorre o óleo usado. Atenção ao despejo de óleo usado: despejar óleo na sarjeta, na sanita ou simplesmente para o chão constitui Crime Ambiental e não deve ser feito, para preservar a qualidade de vida de todos nós. Existem empresas de recolha de óleos e resíduos que devem ser contactadas previamente para este efeito, e se o valor e logística associados a este processo forem demasiado inoportunos devemos delegar este serviço para o nosso mecânico de confiança.

Outras ferramentas que um motociclista pode e deve ter em casa são: uma chave dinamométrica (até 200Nm deverá ser suficiente); chave de velas (poderá vir com o estojo de ferramentas original da moto); Alicates de aperto e corte; Um braço de força (às vezes as rodas são apertadas com demasiado torque nas casas de pneus ou mecânicos e é preciso fazer muita força para desapertar. Em alternativa existem as ferramentas pneumáticas); Um descravador de correntes; Se o à-vontade permitir, um extractor (para extrair rolamentos, por exemplo); uma gambiarra, ou uma boa lanterna.
Lubrificantes:
Para além da intervenção mecânica, outros são os procedimentos inerentes a uma boa manutenção caseira. No que toca a lubrificação, existem bastantes produtos disponíveis no mercado e é fácil para alguém menos sabido nestas questões de adquirir produto dispensável ou, tal como em relação às ferramentas, esquecer algum produto que é realmente fundamental.
Em casa deveremos ter um bom lubrificante de correntes, ou seja, um que adira bem à corrente e não salpique, para aplicar num intervalo de quilómetros entre 300 e 500. A aplicação de lubrificante de correntes dever-se-à fazer com a corrente limpa de gordura e com o lubrificante antigo removido, por isso uma escova de limpeza de correntes é também aconselhada.
É no campo da limpeza que existem variadíssimos produtos e, na minha opinião, apenas um deles é mais importante do que os outros todos: Brake Cleaner! O brake cleaner, apesar de se referir apenas a travões, é um potente desengordurante para componentes metálicos da moto que não deixa resíduo, daí ser aconselhado para os discos de travão. Este nunca falta lá em casa!

Outro lubrificante sempre útil é o conhecido WD-40 multiusos. Este lubrificante não deve ser aplicado na corrente, mas sim em pequenos componentes metálicos de fricção como por exemplo o descanso lateral ou os poisa-pés. É um produto desengordurante e anti-corrosão, portanto até para limpar jantes pode servir, veja-se! Basta aplicar uma pequena porção num pano multi-fibras e esfregar na jante para vê-la recuperar o brilho de outrora!
Por último, outro lubrificante útil para ter em casa é uma massa consistente à prova de água. A massa aplica-se em variados componentes metálicos, em especial nos rolamentos, e o facto de ser à prova de água garante que zonas sensíveis como os rolamentos das rodas, por exemplo, resistem um pouco mais à corrosão criada pela condução em dias de chuva ou, para condutores como eu, pela passagem por todas as poças de água disponíveis.
Acessibilidade
O último capítulo deste artigo é também aquele que gera mais apuros a quem se aventura a mexer na sua moto em casa, porque há um aspecto que distingue uma oficina de uma garagem: o elevador!

Para intervir numa moto com conforto devemos conseguir tê-la a uma altura suficiente para não ter que adoptar más posturas. Estas podem levar a dores persistentes, nomeadamente na zona lombar, que vão afectar não só a capacidade que temos para voltar a intervir na moto num curto espaço de tempo, mas também o nosso bem-estar geral na vida diária.
Não sendo possível ter um elevador, torna-se então imprescindível ter pelo menos um descanso central ou um cavalete para pousar a moto. Neste caso, mais do que o conforto, impera a segurança para ter a moto estável, sem risco de queda e por isso, minimizando o risco de acidente.
Em casa, aplicar cavalete frontal e traseiro não é excesso de zelo e a segurança melhora ainda mais se for possível aplicar cintas a um qualquer ponto de fixação.
Não menos importante, é necessário espaço para circular à volta da moto e ter liberdade de movimentos para qualquer intervenção. Se a intervenção implicar carregar peso, como um motor, por exemplo, garantir não só que existe espaço para transportar mas também para pousar em segurança e, claro, voltar a levantá-lo de lá!
Boas intervenções mecânicas!

Normalmente intervenções mais simples sou eu que faço. Não tenho curso de mecânica mas tenho alguns conhecimentos uma vez que já trabalhei em mecânica automóvel 😉
Já ando há que tempos para comprar uma dessas chaves dinamometrica 😁
Um prazer ler, como habitualmente 😉